segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Ninho de Cobras


Que se foda o mundo!
A ordem agora é simples, é não andar para frente, como se espera, mas andar torto e inescrupulosamente livre, dono de si e sem a cautela lúcida dos complacentes.
Esta criança pela qual vocês me tratam, não é a criança tola que cai e chora, sou a criança ereta, demoníaca, sou o erê dos terreiros mais odiosos.
Pega essa tua língua esperta, bifurcada, aguda e remenda com ela tua vida. Arranha teu dorso no chão quente dos teus delírios e enrosca-te nas cobras de outros ninhos.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Amor de Quinta

Não é domingo.
Não o será amanhã também porque hoje não é sábado.
Hoje, é uma quinta quadrada
Uma quinta imune às vésperas de sexta.

A Rosa, aquela de um vermelho cálido
Verga-se soberba  acima da grama
É quinta, sem dúvida alguma!

A moça espera o rapaz
Só mesmo um casal apaixonado passeia na quinta
Sem importar que seja ou não um dia propício
Dão-se aos abraços

Não é domingo
A Rosa  espera
A mão terna do rapaz.
Arranca-a!

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Estou Morto

Nascido e morrido num corpo de carne
Soterrado e enterrado na terra do mundo
Abaixo das pernas e de forma tão terna
Que o verme, decompositor de vidas
Não me come...
Me beija e saliva.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

"Vou Indo"

Hoje, meu coração está aflito,
Não quer esperar donzela saindo,
Não quer ceder as maiores idades
Só quer dormir durante o caminho
E acordar, perdido n’algum destino.
...
Ah, como é vagaroso esse trem,
Que não leva nada nem ninguém a lugar algum.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Desejismo

...e doía!

Cada vez que respira, lhe dói encher o peito de vida... viver e não ver solução na vida, porque o Deus, consciente e maligno, lhe dera mais que um corpo, lhe dera uma visão maldita sobre as coisas, uma visão profunda e rochosa, porosa e escaldante...a vida era desértica e inóspita.

Ao correr os olhos sobre seu corpo, ali, naquele espelho impiedosamente iluminado, uma grande energia percorria junto a seu sangue e transbordava cada célula de seu corpo com o ódio inumano de quem era irremediavelmente só no mundo... uma peça sem encaixe. A boca macia e raivosa... tensa e úmida ansiava gritar ao corpo habitado “não te desejo”.

Agora é cedo para dizer, mas há alguma coisa ainda em descoberta... alguma coisa traduzindo-se na lentidão paciente dos monges e no silício fervoroso dos cristãos. Minhas mãos atadas constroem sem finanças alguma a arte macabra do amor utópico, e o caminho já decorado ilumina-se atrativo, é uma pequena arapuca com uma saborosa isca, enfio minhas mãos, o corpo, e quando estou entregue ao deleite pernicioso eis que me iça, indefeso e confuso... debato-me suspenso no ar.

A santidade pagã em que me reconheço, não é reconhecida fora de mim, há uma espécie de universalizador da fé...e a minha fé apátrida, órfã e não argumentada não encontra lugar ao sol e torna-se então uma fé obscura. Na sua frialdade orgânica o excesso de emolientes torna tudo mais frágil. Mas tudo na minha religião é úmido e maleável, a matéria de minha religião não é o medo ou a castidade, não é o puro nem o belo... há uma adoração queratinosa e secular que faz as bocas torcerem-se enojadas.

Oh Deus, senhor de todas as maiúsculas, dá a mim também o beneficio generoso de teu amor, fortalece minha alma cegando-a com tua luz, apatize-me como a um filho teu e cubra-me com a singela alienação divina. Quero aprender contigo a diária derrota e conformar sorrindo, sorrindo, sorrindo...

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

12 ENSAIOS CLANDESTINOS



1° ENSAIO: A respeito da felicidade, do amor e de outros demônios

2° ENSAIO: A respeito da decepção, do ódio e do abandono.


3° ENSAIO: A respeito do tédio, do enjôo e das coisas broxantes.

4° ENSAIO: A respeito do desejo, do instinto e da força.

5° ENSAIO: A respeito do oportunismo, do parasitismo e do egocentrismo.

6° ENSAIO: A respeito do Deus impotente, ausente e inconsciente. 

7° ENSAIO: A respeito da angustia, da insustentabilidade humana e da efemeridade da vida.

8º ENSAIO: A respeito dos exercícios diários, dos erros diários e das pausas.

9º ENSAIO: A respeito da contemplação, das descobertas e das essencialidades.

10º ENSAIO: A respeito da raça humana, a meu respeito e a respeito das naturezas.

11º ENSAIO: A respeito da morte, da lembrança e do vazio.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Gigantismo






















Sofro de Gigantismo Agudo


Me acho espremido no mundo


E me sufoco num desejo irremediável 


De me manter pequeno, mas, nunca cabível. 



Ilustração: Dalila Mendonça