sábado, 28 de dezembro de 2013

Doença

Onça feroz que me devora
Deixa as tripas de fora
Me arrasto em fuga 
Mas me alcança novamente esta fera
Que me abocanha e me enterra.


sábado, 14 de dezembro de 2013

Corpos Celestes

Minha cabeça, folha falsa
Enfio meus dedos na terra
Eis que me alcança esta quimera
Arrepiando em meu peito o que sou

Adoeço no meio de tanta gente
Indigente tudo é neste lugar
Não sobra espaço pra um carinho
Um aconchego, um abraço
Pra cuidar

E eu virando pedra
Sinto que aperta a hora
Na garganta esse ar que já mal passa
Aqui tudo pesa e tudo amarra

Tudo aqui me apavora

E se descuido por um segundo
Torno-me eu um moribundo
A vagar sem rumo sobre tantos corpos
Embaixo de tantos corpos celestes.



terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Abaçaí

Dança a índia na cachoeira
Peixe sobe correnteza
Despeja a vida
Borboletas

Cipó, caiapó, caipora
Olha a destreza
Daquela índia na Natureza

Então um dia veio o veleiro
Navio negreiro
Moribundo e sorrateiro
Vem... vem... veio...

A caravana portuguesa
Com suas tantas riquezas
Fogo nas águas
Terras roubadas

E o índio foi batizado
[Bestificado e domesticado]
E o rei com sua coroa
Em terras Tupis, sua e soa
- É tudo meu!




*Abaçaí: a pessoa que espreita, persegue, gênio perseguidor de índios; espírito maligno que perseguia os índios, enlouquecendo-os. (http://povodearuanda.wordpress.com/2007/12/03/mini-dicionario-tupi-guarani/)

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Viajar é Preciso

Flutuo longe, como quem busca naufragar
Distante do deserto de lamurias
Poesias e figuras
[Navegar]

Nesse desejo profundo
[Afundo]
Mergulho de olhos abertos
Vejo criaturas abissais

Quando vem rastejante o navio
Com seus escravos me salvar
Penso que já estou a salvo
Aqui mesmo
[Alto-mar]

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Pleno Incompleto

...finda!
Desejo doloroso que se instala
Passo a passo, dois descompassos
Solidão de assalto
No asfalto o calor me leva de mim.

Bate o tambor o inicio da luta
Presença disforme este meu coração
Não se alinha à alma
E está lágrima não participa da confusão

Então que minhas mãos me enganam
Então que me engano nos dias
Querendo nunca acordar
Mas num momento, o cheiro atiça a fome
Embrulhando meu desejo
Em papel de pão