terça-feira, 27 de setembro de 2011

Ana (A)

É fácil, é fácil, é fácil.....
Lá estava Ana, dizendo a si mesma, surpresa com o mundo que a rodeava... amedrontada apesar de tudo... inspirada e receosa.
Levantou como faz todos os dias, mas algo novo acordou com ela. Foi ao banheiro, o xixi, o sono, o silêncio de quem está sozinho -  mas e está sensação meu Deus? – a água gelada no rosto, o sono se assusta, ela se assusta. O Espelho.
Ana não está triste, porém a sensação a põe alerta, pensa sem pausa, come sem fome, levanta, escova, veste, sai.
O quintal precisa ser varrido... este fim de semana eu varro.
O ônibus está lotado, Ana se preocupa com a hora, sobe, o ônibus dá o avanço inicial. Arrancada do lugar começa seu caminho. A intimidade com estranhos vai mais longe que consigo mesma, mas hoje, isso não a incomoda.
O Sol brilha lá fora, Ana quer saltar no próximo ponto, sente uma angustia torcer seus pulmões e fica sem ar. Um homem percebe seu rosto de pavor, oferece lugar, ela não aceita, sabe que isso não resolve.
Dá o sinal... ainda está longe do trabalho, mas não pensa nisso. Atravessa a rua às pressas... seu coração bate às pressas... as pernas meio tortas, meio magras, dão um charme tímido, porém único ao seu andar. Aperta ainda mais o passo. Aperta a bolsa contra o peito até sentir oprimido o desejo que não controla. Inútil!
Vê uma loja de doces, um bombom sempre ajuda a sentir-se melhor. Come exausta, ofegante, raivosa... cospe metade no chão. Não é o  bastante! Ana sabe que agora precisa de mais, sua vida exige algo fora de sua rotina. Ana está pronta, esperando o que não conhece.
O sinal vermelho, sua saia e o vento dos carros... a interação das coisas, ela fazendo parte, reconhecendo-se, doando-se secreta ao mundo.
O sinal abre e Ana continua.